DR. BERNARD NATHANSON
- UM EX-ABORTISTA
Este texto é de
uma conferência proferida pelo Dr. Bernard N. Nathanson no
"Colégio Médico de Madrid", publicada pela revista FUERZA NUEVA,
de onde se transcreveu. O testemunho é sumamente valioso tendo
em conta a personalidade do autor, um dos mais importantes
defensores do aborto nos Estados Unidos.
É importante que vocês se
dêem conta que fui um dos fundadores da organização mais
importante que "vendia" aborto ao povo norte-americano. Havia
mais outros dois membros: o Sr. Lawrence Lader e uma senhorita
que pertencia ao movimento feminista.
Em 1968, quando organizamos
o movimento calcula-se que menos de 1% era partidário da
liberação do aborto, ou seja, de 100 pessoas, 99 estavam contra
e nosso orçamento era de 7.500 dólares anuais enquanto em 1982
já se aproximava de um milhão de dólares.
Vou explicar-lhes como
estabelecemos o plano para convencer essas 199 milhões de
pessoas em um país de 200 milhões para que o aborto fosse
aceito.
As táticas que vou explicar
são seguras e além disso são as mesmas que se estabeleceram em
outros países e também as que se utilizam na Espanha e nas
demais nações.
Serviram-nos de base duas
grandes mentiras: a falsificação de estatísticas e pesquisas que
dizíamos haver feito e a escolha de uma vítima que afirmasse que
o mal do aborto não se aprovaria na América do Norte. Essa
vítima foi a Igreja Católica, ou melhor dizendo, sua hierarquia
de bispos e cardeais.
Quando mais tarde os
pró-abortistas usavam os mesmos "slogans" e argumentos que eu
havia preparado em 1968, ria muito porque eu havia sido um de
seus inventores e sabia muito bem que eram mentiras.
Falsificação
das estatísticas
É uma tática importante.
Dizíamos, em 1968, que na América se praticavam um milhão de
abortos clandestinos, quando sabíamos que estes não
ultrapassavam de cem mil, mas esse número não nos servia e
multiplicamos por dez para chamar a atenção. Também repetíamos
constantemente que as mortes maternas por aborto clandestino se
aproximavam de dez mil, quando sabíamos que eram apenas
duzentas, mas esse número era muito pequeno para a propaganda.
Esta tática do engano e da grande mentira se se repete
constantemente acaba sendo aceita como verdade.
Nós nos lançamos para a
conquista dos meios de comunicações sociais, dos grupos
universitários, sobretudo das feministas. Eles escutavam tudo o
que dizíamos, inclusive as mentiras, e logo divulgavam pelos
meios de comunicações sociais, base da propaganda.
É importantíssimo que vocês
se preocupem com os meios de comunicações sociais porque,
segundo explicam os fatos, assim se infiltrarão as idéias entre
a população. Se na Espanha esses meios não estão dispostos a
dizer a verdade, vocês se encontram na mesma situação que
criamos nos EE. UU.em 1968/69, quando contávamos através desses
meios todas as mentiras que acabo de mencionar.
Outra prática eram nossas
próprias invenções. Dizíamos, por exemplo, que havíamos feito
uma pesquisa e que 25 por cento da população era a favor do
aborto e três meses mais tarde dizíamos que eram 50 por cento, e
assim sucessivamente. Os americanos acreditavam e como desejavam
estar na moda, formar parte da maioria para que não dissessem
que eram "atrasados", se uniam aos "avançados".
Mais tarde fizemos
pesquisas de verdade e pudemos comprovar que pouco a pouco iam
aparecendo os resultados que havíamos inventado; por isso sejam
muito cautelosos sobre as pesquisas que se fazem sobre o aborto.
Porque apesar de serem inventadas têm a virtude de convencer
inclusive os magistrados e legisladores, pois eles como qualquer
outra pessoa lêem jornais, ouvem rádio e sempre fica alguma
coisa em sua mente.
A Hierarquia
Católica eleita como vítima
Uma das táticas mais
eficazes que utilizamos naquela época foi o que chamamos de
"etiqueta católica". Isso é importante para vocês, porque seu
país é majoritariamente católico.
Em 1966 a guerra do Vietnam
não era muito aceita pela população. A Igreja Católica a
aprovava nos Estados Unidos. Então escolhemos como vítima a
Igreja Católica e tratamos de relacioná-la com outros movimentos
reacionários, inclusive no movimento anti-abortista. Sabíamos
que não era bem assim mas com esses enganos pusemos todos os
jovens e as Igrejas Protestantes, que sempre olhava com receio a
Igreja Católica, contra ela. Conseguimos inculcar a idéia nas
pessoas de que a Igreja Católica era a culpada da não aprovação
da lei do aborto. Como era importante não criar antagonismos
entre os próprios americanos de distintas crenças, isolamos a
hierarquia, bispos e cardeais como os "maus". Essa tática foi
tão eficaz que, ainda hoje, se emprega em outros países. Aos
católicos que se opunham ao aborto se lhes acusava de estar
enfeitiçados pela hierarquia e os que o aceitavam se lhes
considerava como modernos, progressistas, liberais e mais
esclarecidos. Posso assegurar-lhes que o problema do aborto não
é um problema do tipo confessional. Eu não pertenço a nenhuma
religião e em compensação estou lhes falando contra o aborto.
Também quero dizer-lhes que
hoje nos Estados Unidos a direção e liderança do movimento
antiabortista passou da Igreja Católica para as Igrejas
Protestantes. Há também outras igrejas que se opõem, como as
Ortodoxas, Orientais, a Igreja de Cristo, os Batistas
Americanos, Igrejas Luteranas Metodistas da África, todo o Islã,
o judaísmo Ortodoxo, os Mórmons, as Assembléias de Deus e os
Presbiterianos.
Outra tática que empregamos
contra a Igreja Católica foi acusar seus sacerdotes, quando
tomavam parte nos debates públicos contra o aborto, de meter-se
em política e de que isso era anticonstitucional. O público
acreditou facilmente apesar da falácia do argumento ser clara.
Dirigi a partir
de 1971 a maior clínica de aborto do mundo
Foi o Centro de Saúde
Sexual (CRANCH), situado ao leste de Nova York. Tinha 10 salas
de cirurgia e 35 médicos sob minhas ordens. Realizávamos 120
abortos diários, incluindo domingos e feriados e somente no dia
de Natal não trabalhávamos. Quando assumi a clínica estava tudo
sujo e nas piores condições sanitárias. Os médicos não lavavam
as mãos entre um aborto e outro e alguns eram feitos por
enfermeiras ou simples auxiliares. Consegui modificar tudo
aquilo e transformá-la em uma clínica modelo em seu gênero, e
como Chefe de Departamento, tenho que confessar que 60.000
abortos foram praticados sob minhas ordens e uns 5.000 foram
feitos pessoalmente por mim.
Lembro que numa festa que
organizamos algumas esposas dos médicos me contaram que seus
maridos sofriam pesadelos durante a noite e, gritando, falavam
de sangue e de corpos de crianças cortados. Outros bebiam
demasiadamente e alguns usavam drogas. Alguns deles tiveram que
ser visitados por psiquiatras. Muitas enfermeiras se tornaram
alcoólatras e outras abandonaram a clínica chorando. Foi para
mim uma experiência sem precedentes.
Em setembro de 1972
apresentei minha demissão porque já havia conseguido meu
objetivo, que era colocar a clínica em funcionamento. Naquela
época, digo sinceramente, não deixei a clínica porque estivesse
contra o aborto; deixei-a porque tinha outros compromissos a
cumprir. Fui nomeado Diretor do Serviço de Obstetrícia do
Hospital de São Lucas de Nova York, onde iniciei a criação do
serviço de Fetologia. Estudando o feto, no interior do útero
materno, pude comprovar que é um ser humano com todas suas
características a quem deve ser outorgado todos os privilégios e
vantagens que desfruta qualquer cidadão na sociedade ocidental.
Do estudo do
feto vivo no interior do útero tirei esta conclusão
Talvez alguém pense que
antes de meus estudos devia saber, como médico, e além disso
como ginecologista, que o ser concebido era um ser humano.
Evidentemente sabia disso, mas não o havia comprovado, eu mesmo,
cientificamente. As novas tecnologias nos ajudam a conhecer com
maior exatidão sua natureza humana e não considerá-lo como um
simples pedaço de carne. Hoje, com técnicas modernas, pode-se
tratar no interior do útero muitas doenças, inclusive fazer mais
de 50 tipos de cirurgias. Foram esses argumentos científicos que
mudaram meu modo de pensar. O fato é que: se o ser concebido é
um paciente que pode ser submetido a um tratamento, então é uma
pessoa e, se é uma pessoa, tem o direito à vida e a que nós
procuremos conservá-la.
Gostaria de fazer um
breve comentário ao Projeto de Lei sobre aborto apresentado na
Espanha
(Nota: esse projeto de lei já foi
aprovado.)
É a mesma que está em vigor
no Canadá, ou seja, em casos de estupro, sub-normalidade e nos
casos de risco à saúde da mãe.
O estupro é sem dúvida uma
situação muito dolorosa. Afortunadamente poucos estupros são
seguidos de gravidez. Mas mesmo nesse caso, o estupro, que é um
terrível ato de violência, não pode ser seguido de outro não
menos terrível como é a destruição de um ser vivo. Portanto
tratar de apagar uma horrível violência com outra também
horrível não parece lógico; é simplesmente um absurdo, e na
realidade o que faz é aumentar o trauma da mulher ao destruir
uma vida inocente. Porque essa vida tem um valor em si mesma
ainda que tenha sido criada em circunstâncias terríveis,
circunstâncias que nunca poderiam justificar sua destruição.
Posso assegurar-lhes que
muitos dos que estamos aqui fomos concebidos em circunstâncias
que não foram as ideais, talvez sem amor, sem calor humano,
porém isso não nos modifica em absoluto nem nos estigmatiza.
Portanto, recorrer ao aborto em caso de estupro é algo ilógico e
desumano.
Vou me referir à saúde da
mãe. Sempre disse que defenderia o aborto se a saúde física da
mulher estivesse em perigo imediato de morte caso continuasse
sua gravidez. Mas hoje, com os avanços da medicina, esse caso
praticamente não existe. Portanto o argumento é enganoso, porque
simplesmente não é certo.
Finalmente vou considerar o
caso do feto defeituoso. Esse é um assunto muito delicado porque
significa que aspiramos uma sociedade formada por pessoas
fisicamente perfeitas, e sem medo de me equivocar posso
assegurar que nesta sala não há uma única pessoa que seja
fisicamente perfeita. É perigosíssimo aceitar esse princípio
porque desembocaria num holocausto.
Posso assegurar-lhes que
inclusive as crianças mangólicas são queridas.` Vou contar-lhes
uma história. Quando estive na Nova Zelândia com minha esposa,
um dia almoçamos com o Sir William Lilley, que é um dos
fetologistas mais importante do mundo e nos contou que tivera
quatro filhos que já eram maiores, e ao ficar o casal sozinho
adotaram uma criança mongólica, disse-me que esse filho adotivo
lhes havia proporcionado mais alegria que qualquer um dos outros
quatro filhos.
Posso assegurar-lhes que se
esse tipo de lei for aprovada na Espanha se abusará dela e será
utilizada para justificar o aborto em todos os casos.
Isso foi o que ocorreu no
Canadá. Os médicos, simplesmente colocam uma etiqueta nos
pedidos de aborto e todo mundo acha graça deles e da lei.
Penso
que quando se permite o aborto, permite-se um ato de violência
mortal, um ato deliberado de destruição e portanto um crime.
Posso assegurar-lhes que se
a Espanha seguir o caminho do aborto, os três Selos do
Apocalipse que são a delinqüência violenta, a droga e a
eutanásia não tardarão de aparecer em seguida, como está se
sucedendo na América. Quero terminar com estas palavras:
Como cientista, não é
que eu acredite, mas é que sei que a vida começa no momento da
concepção e deve ser inviolável.
Considere que não
professo nenhuma religião, penso que existe uma Divindade que
nos ordena por fim neste triste, inexplicável e vergonhoso crime
contra a humanidade.
Se não saímos vitoriosos
e omitimos nossa completa dedicação a esta causa tão importante,
a História nunca nos perdoará.
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